Esparsos

quinta-feira, junho 30, 2005

Tira

Tira-me a vida, tira-me a morte e deixa-me estar. Fico sem nada, mas também nunca tive algo que me pudesses tirar.

segunda-feira, junho 27, 2005

Rótulo da vida

1. Segmentação da realidade em compartimentos estanques.
2. Tudo segue em embalagens separadas.
3. Garantia de um nanossegundo.
4. Livro de instruções NÃO INCLUÍDO.
5. NÃO existe livro de reclamações.
6. Se tiver problemas, por favor atire-se da ponte mais próxima.
7. Seja AMIGO DO AMBIENTE: vá nu para não poluir o sítio onde se atirar.
8. Não reembolsamos familiares, mas tentamos sempre fazer com que sigam o seu caminho.
9. A aquisição deste produto é vitalícia. (Cf. Linha 6)
10. Todas as despesas a cargo de quem for suficientemente trouxa para as pagar.
11. A linha 2 apenas é válida se o comprovativo de compra for enviado.
12. NÃO dispomos de qualquer contacto possível. (Cf. Linha 11)


Ass.:
Os inventores da vida

quarta-feira, junho 22, 2005

Solidão, simples

Sinto-me sozinho. Sim, eu sei que estás aí. Agora e sempre. Eu consigo sentir-te perto de mim. Mas também consigo sentir a tua ausência. E quando eu sinto a tua ausência, nada mais se torna significante, porque tu chegaste à minha vida para lhe dar significado e, já que nada mais tinha significado, ela fica vazia sem ti por perto. É muito fácil considerar isto como algo perigoso, não te parece? É perigoso depender de uma pessoa, deixar que a nossa sanidade pouse nas mãos dessa pessoa e que ela possa fazer com ela o que quiser. Para além da minha sanidade, dei-te desde logo o meu coração. Tens ambos em teu poder. E não posso dizer que alguma vez me tenha arrependido dessa decisão, e duvido que alguma vez me venha a arrepender. Aliás, eu duvido de tudo quando não estás por perto. Menos de uma coisa. Sim, adivinhaste. Nunca duvidei do meu amor por ti nem do teu amor por mim. Só que mesmo aquelas coisas que são como são e nem podem ser de outra forma têm intensidades diferentes... ou então provocam reacções diferentes, já que todos somos tão diferentes. Eu não costumo chorar de saudades, embora as sinta. Eu não costumo ficar completamente absorvido e num estado de sofrimento completo, embora sinta saudades. E até às vezes todas essas coisas que eu "não costumo" acabam por acontecer comigo. Porque eu sinto. Neste momento sinto-me sozinho. E agora chega aquela parte em que eu invento uma metafora qualquer para a solidão e que serve para maravilhar as pessoas e tornar um sentimento forte ainda mais forte. Só que eu sinto-me cansado de estar aqui a contemplar o nada, sozinho. Pergunto-me porque é que tenho que inventar uma metáfora. Será que às crianças tudo tem que ser decomposto e explicado? Dêem-me vocês as vossas metáforas! Vá, escrevam! Eu fico aqui sozinho, a tentar lutar comigo mesmo e com a inércia que a solidão provoca em mim, e que me transforma num... EU AVISEI QUE NÃO IA USAR METÁFORAS! CHATOS!

Por isso isto acaba aqui, aliás, até já vai longo e eu não consigo perceber porque é que as palavras teimam em sair em tais quantidades industriais...

segunda-feira, junho 20, 2005

Nota do Autor



Esta é a capa do meu livro, "Pena que Sangra", uma colectânea de poemas meus, da Corpos Editora. Estará brevemente disponível no site da FNAC, entre outros.

domingo, junho 19, 2005

Desespero

Atravesso a Travessa do Desespero, vindo da Rua do Receio, e encontro a tua tridimensional sombra a olhar para mim. Onde meteste o teu corpo quente e corpóreo?

sábado, junho 18, 2005

Nota do Autor

Para a semana vou lançar um livro de poesia, "Pena que Sangra", através da Corpos Editora. Darei mais informações à medida que as tiver, mas para já posso adiantar que a gráfica já terminou a impressão do livro.

Em princípio o livro poderá depois ser encontrado através da FNAC, por exemplo.

sexta-feira, junho 17, 2005

Sede

Tenho sede de sangue. Quem ma satisfaz?

terça-feira, junho 14, 2005

Distante

Porque será que estás tão longe? Eu sei que estás sempre comigo, eu sinto o anjo negro que enviaste para guardar-me na tua ausência, mas cada centímetro que nos separa é um pedaço esticado do cordão entre as nossas almas. Um cordão que, ao ser impossível de destruir, estica cada vez mais, cada vez mais dolorosamente. Só na perfeita união que advém de juntarmos os nossos lábios eu consigo sentir algum alívio.

domingo, junho 12, 2005

Tempestade, parte 4

Ela estava mesmo à minha frente, na sua singular beleza jovem e intocada, a pele branca e sem quaisquer imperfeições, que logo momentaneamente mudava para uma cara velha e enrugada, para depois tudo isso se desfazer na perfeição de uma pele doce e suave como um pêssego, ou como seda. Ela olhava-me nos olhos e eu parecia ver neles uma súplica que não entendia muito bem. O cheiro que dela emanava era peculiar: parecia que tinha sido mergilhado num mar de rosas, mas, ao mesmo tempo, havia uma sugestão de enxofre que parecia perturbar o meu nariz, sempre muito habituado a cheiros fortes de animais e de estrume. Ela estendeu a mão e fez-me uma festa no rosto. Decidi-me a aceitar o que tinha que ser feito. O meu braço moveu-se quase como se por vontade própria e os meus dedos fecharam em torno do seu pequeno pescoço. A minha visão agudizou-se e eu sentia o bater do coração dela através das minhas mãos, conseguia sentir uma pequena centelha de medo do pouco de humano que havia nela. O ar começava a escassear nos pulmões dela, mas ela não lutava. Os olhos começaram a fechar-se, e algo se continuava a alterar em mim. Sentia um influxo de poder incrível. O mundo parecia curvar-se perante o peso do que acontecia. As nuvens que ela tinha trazido consigo choraram a morte da sua pastora, descarregando em cima de nós um verdadeiro dilúvio e uma trovoada que parecia ser a própria fúria dos há muito mortos deuses antigos. Zeus ficaria com inveja de tal trabalho de força e luz.

Um dos raios atingiu-me, e a ela, tentando carbonizar-nos. Mas a aura negra que se tinha conjugado à minha volta, procurando aquele que há muito lhe tinha sido prometido, protegeu-nos e nada nos aconteceu. Ainda assim, o brilho negro que estava à minha volta, impedindo qualquer pessoa ou ser que fosse a conseguir lobrigar quaisquer pormenores sobre a minha figura. Tinha por fim chegado a altura, o poder estava reunido. O meu cavalo levantou-se, agora completamente negro, com músculos exageradamente fortes e salientes. O corpo da rapariguinha tinha-se transfigurado numa espada feita de uma matéria desconhecida, completamente negra, de gumes afiados, larga e comprida. O seu peso, não obstante, era algo que eu quase não sentia. Estava em união com ela, era apenas mais uma parte de mim e era tão natural como qualquer membro do meu corpo. Com um único salto pus-me em cima do meu cavalo, pegando nas rédeas com uma mão e dirigi-me para os outros cavaleiros, que tinham assistido à cena impávidos e imperturbáveis. Falei em pensamento para eles: «O momento é. O momento chegou depois de tanta espera. Será agora, por fim, a noite em que tudo será transformado, em que todas as provações serão recompensadas. O justo equilíbrio chegou. Cavalguemos para o fim!"

Bramindo a minha espada, e eles elevando aos céus os seus agudos gritos de dor e profanação, lançámo-nos a cavalgar pela planície. Todos desejávamos sangue. A humanidade seria agora a nossa mesa. Este era o fim, o regresso do equilíbrio.

"Nazarene, what can you offer?
Since the hour you vomited forth
from the gaping womb of a woman,
you have done nothing but drown mens' soaring desires in a deluge of
sanctimonious morality.
I was conceived of a jackal.
Your pain on the cross was but a splinter
compared to the agony of my father.
I will drive deeper the thorns into your rancid carcass,
you profaner of Isis.
"
- "Damien", Iced Earth


"Fight spawn of the damned, bring down the heavens
Smash in the gates, burn 'em down
You must accept the fate that you've chosen
You will obey your destiny
"
- "Dark Saga", Iced Earth

quinta-feira, junho 09, 2005

Mea culpa?

Sentado sozinho, perdido no escuro apesar das luzes, sufocado apesar do ar fresco que corre, faço uma intro-retrospectiva e tento perceber aquilo que é a minha vida, aquele pedaço de verdade que em pouco tempo se transformou em toda a minha vida.

Procuro razões para uma fragilidade, procuro brechas por onde a dúvida ou a falta de sentimento se possam ter infiltrado num espírito habituado a confundir a realidade com a ficção, que dita a si mesmo o que pensar, o que sentir, em todas as ocasiões, e que por isso mesmo se perde na fina linha entre a imaginação ou extrapolação e aquilo que realmente vem do coração. Nada disto está lá. De duro diamante rematado a titânio, o sentimento continua em mim, vivo, forte e brilhante como desde os primeiros momentos - não, mais até do que isso!

Procuro então analisar situações, comportamentos. Aqui sim, aqui sim vejo o espectro da minha verdadeira face. A incapacidade de perceber, a impotência no ouvir surdo e umbiguista... A dor de querer ser mais e além que deixa tudo abaixo de si como se apenas vivesse consumindo. Firo de novo a minha consciência de mim, procuro pela dor do sofrimento que faço a outros punir-me para alterar o meu ego. Mas entretanto deixo atrás de mim um rasto de destruição indesculpável. O amor é a condensação da essência da vida num único sentimento. Os mortos amam?

Regressam as dúvidas. Mea culpa, mesmo que não o seja. Porque assim o sinto, porque vejo aquilo que pensava ter melhorado.

quarta-feira, junho 08, 2005

Tudo

Sou levado para longe de ti. Corro com toda a minha força, apesar do cansaço, apesar de tudo o que me tolda a mente, ou talvez por causa disso mesmo. Corro pela estrada acima, passam carros e eu nem ligo, encontro um conhecido e desencanto um daqueles sorrisos de (in)conveniência - será que reparou?... mas não me interessa - e a fúria continua a acumular-se dentro de mim, continua a crescer como se nada mais existisse. Olho a Lua e ela goza comigo, no seu estado de Quarto Crescente-quase-cheio-mas-nem-por-isso, não me dando razões para que eu possa uivar e assim soltar toda a minha frustração, tudo aquilo que sinto dentro de mim e que não posso dizer. Queria dizer que te amo, queria dizer que tudo está bem quando estamos juntos, e que tudo fica bem quando nos vemos, que quando não estamos juntos conseguimos sorrir realmente, até mesmo por dentro da alma. Queria dizer tudo isso, queria dizer-te que todo esse cansaço, toda essa frustração e todos os problemas que possas ter não existem, são apenas ilusões criadas por uma vida vivida longe de quem se ama.

Queria que a minha presença fosse bálsamo duradouro, queria conseguir que todos os teus problemas se desvanecessem em pó e nada e que tudo isso prevalecesse até mesmo quando eu não estou lá. Sei que isso não funciona assim, sei que todas as tuas tribulações são maiores do que aquilo que fica de doce na boca depois de um último beijo de despedida. Mas eu tento fazê-lo. Talvez não tenha força suficiente, talvez algo esteja errado comigo, mas eu tento, e vou continuar a tentar enquanto vir em ti uma cara de tristeza, de desespero, de uma emoção negativa que me toca no fundo da minha alma, que me faz sentir como se o mundo fosse acabar, que me dispõe a fazer tudo para que um sorriso possa novamente iluminar essas doces e belas faces. Lutarei sempre e cada vez mais para tentar fazer-te feliz. Porque tu mereces a felicidade. Depois de todas as provações, mereces ser feliz. Espero ardentemente que essa felicidade passe por mim, ou que pelo menos uma parte dela passe por mim. Tens asas para voar, não há gaiola, mas lembra sempre a mão que te procura confortar e aquecer nas noites frias e nos dias de vento cortante.

"Nothing left to make me feel anymore
There's only you and every day I need more
If you want me
Come and find me
I'll do anything you say, just tell me

I'll believe all your lies
Just pretend you love me
Make-belief, close your eyes
I'll be anything for you

... I'll be everything you need
"
- "Anything for you", Evanescence

terça-feira, junho 07, 2005

Nota do Autor

A minha ausência da blogosfera deveu-se a factores alheios ao meu controlo. O blog retomará funções a partir de agora.