domingo, junho 12, 2005

Tempestade, parte 4

Ela estava mesmo à minha frente, na sua singular beleza jovem e intocada, a pele branca e sem quaisquer imperfeições, que logo momentaneamente mudava para uma cara velha e enrugada, para depois tudo isso se desfazer na perfeição de uma pele doce e suave como um pêssego, ou como seda. Ela olhava-me nos olhos e eu parecia ver neles uma súplica que não entendia muito bem. O cheiro que dela emanava era peculiar: parecia que tinha sido mergilhado num mar de rosas, mas, ao mesmo tempo, havia uma sugestão de enxofre que parecia perturbar o meu nariz, sempre muito habituado a cheiros fortes de animais e de estrume. Ela estendeu a mão e fez-me uma festa no rosto. Decidi-me a aceitar o que tinha que ser feito. O meu braço moveu-se quase como se por vontade própria e os meus dedos fecharam em torno do seu pequeno pescoço. A minha visão agudizou-se e eu sentia o bater do coração dela através das minhas mãos, conseguia sentir uma pequena centelha de medo do pouco de humano que havia nela. O ar começava a escassear nos pulmões dela, mas ela não lutava. Os olhos começaram a fechar-se, e algo se continuava a alterar em mim. Sentia um influxo de poder incrível. O mundo parecia curvar-se perante o peso do que acontecia. As nuvens que ela tinha trazido consigo choraram a morte da sua pastora, descarregando em cima de nós um verdadeiro dilúvio e uma trovoada que parecia ser a própria fúria dos há muito mortos deuses antigos. Zeus ficaria com inveja de tal trabalho de força e luz.

Um dos raios atingiu-me, e a ela, tentando carbonizar-nos. Mas a aura negra que se tinha conjugado à minha volta, procurando aquele que há muito lhe tinha sido prometido, protegeu-nos e nada nos aconteceu. Ainda assim, o brilho negro que estava à minha volta, impedindo qualquer pessoa ou ser que fosse a conseguir lobrigar quaisquer pormenores sobre a minha figura. Tinha por fim chegado a altura, o poder estava reunido. O meu cavalo levantou-se, agora completamente negro, com músculos exageradamente fortes e salientes. O corpo da rapariguinha tinha-se transfigurado numa espada feita de uma matéria desconhecida, completamente negra, de gumes afiados, larga e comprida. O seu peso, não obstante, era algo que eu quase não sentia. Estava em união com ela, era apenas mais uma parte de mim e era tão natural como qualquer membro do meu corpo. Com um único salto pus-me em cima do meu cavalo, pegando nas rédeas com uma mão e dirigi-me para os outros cavaleiros, que tinham assistido à cena impávidos e imperturbáveis. Falei em pensamento para eles: «O momento é. O momento chegou depois de tanta espera. Será agora, por fim, a noite em que tudo será transformado, em que todas as provações serão recompensadas. O justo equilíbrio chegou. Cavalguemos para o fim!"

Bramindo a minha espada, e eles elevando aos céus os seus agudos gritos de dor e profanação, lançámo-nos a cavalgar pela planície. Todos desejávamos sangue. A humanidade seria agora a nossa mesa. Este era o fim, o regresso do equilíbrio.

"Nazarene, what can you offer?
Since the hour you vomited forth
from the gaping womb of a woman,
you have done nothing but drown mens' soaring desires in a deluge of
sanctimonious morality.
I was conceived of a jackal.
Your pain on the cross was but a splinter
compared to the agony of my father.
I will drive deeper the thorns into your rancid carcass,
you profaner of Isis.
"
- "Damien", Iced Earth


"Fight spawn of the damned, bring down the heavens
Smash in the gates, burn 'em down
You must accept the fate that you've chosen
You will obey your destiny
"
- "Dark Saga", Iced Earth