quinta-feira, dezembro 14, 2006

Pensamento

A chuva não caía sob uma noite escura; aliás, nem sequer era de noite. O dia de Agosto estava quente e os efeitos do Sol que ainda há pouco estivera no seu pináculo faziam-se sentir. O ar soprava quente, pesado, fazendo ofegar quem o inalava, oprimindo quem por ele fosse atingido. Nem as janelas abertas da casa de Sara conseguiam fazer algo contra isso; ela submetia-se, estando sentada no sofá, apenas com um soutien desportivo e uns shorts justos, um copo de água gelada ao seu lado e a transpiração a acumular-se no seu corpo.

Perguntava-se como é que alguém poderia adormecer com esse calor; mas Diana ali estava, no quarto ao lado. O gelo no copo de Sara derretia rapidamente, mas mesmo com aquele calor não podia impedir os seus pensamentos. Quando passara pelo quarto dela tivera o impulso de espreitar, olhando para isso através da frincha da porta entreaberta do quarto. Vira-a deitada, os seus membros a ocupar toda a cama, a cabeça de lado, com o cabelo negro a recobrir-lhe parcialmente a expressão de paz. Parecia que nada a podia perturbar, que tudo o que se passava no mundo à sua volta era apenas uma miragem, um mero pensamento sem realidade palpável. As suas pernas desnudas e suavemente contornadas apenas pelo afago do ar de uma ventoinha a um canto do quarto estavam ligeiramente afastadas – Sara conseguiu por um momento entrever o espaço entre elas, as sua lingerie cinzenta e semi-transparente que deixava verdadeiramente à imaginação apenas o mais secreto dos seus lugares. A sua pele pálida permitia que se visse, ao perto, algum do doce e escuro traçado das veias que transportavam nela o líquido da vida; Sara, porém, não se atreveu a entrar, a perturbar o sono de Diana. Afastara-se e fora para a sala. Sentou-se no sofá de novo, mas a televisão não estava a dar nada de interessante, Sara não tinha nada para fazer (ou nada que lhe apetecesse realmente fazer) e estava demasiado calor para ter coragem para sair à rua. Além disso, não tinha nada que quisesse fora daquela casa. Não podia deixar Diana sozinha.

Levantou-se para ir ao frigorífico buscar um refresco, porque a água tinha adquirido o sabor estranho do gelo lá dentro derretido. Contornou o sofá e abriu depois na cozinha a porta do frigorífico, aproveitando a frescura que dele emanava enquanto olhava para o seu interior, para decidir o que iria beber. Quando já quase se decidira a beber o sumo de laranja, não deixando ainda de pensar na sua companheira de casa que tinha aceite partilhar a renda e as despesas para mais facilmente suportar a competitividade do mundo dos negócios em que ambas se moviam, debruçou-se para agarrar a garrafa de sumo. Sentiu nesse momento uma mão a meio das costas; assustada, voltou-se para trás – era Diana, ainda com uma cara ensonada, que tinha acordado e que se tinha aproximado tão doce e lentamente que Sara nem a tinha ouvido.

-Ah, és tu! Que susto... – disse Sara, repentinamente.
-Quem mais querias que fosse? – riu Diana.
-Não sei... Esquece, estava tão distraída que até me esqueci que estavas aqui! E como estavas a dormir, ainda pior. ...Então, dormiste bem? Como é que tu consegues dormir com este calor, afinal de contas?
-Sei lá... Dormindo! Mas sim, dormi bem. Mais vale estar a dormir e não sentir este calor todo do que andar aqui para trás e para a frente. O que é que vais beber, afinal? Ou estás aí só a aproveitar o fresquinho do frigorífico? – as palavras de Diana fluíam, para Sara, como uma brisa fresca e redentora.

Sara não respondeu, limitou-se a baixar-se para pegar na garrafa de sumo de laranja natural e bebeu directamente dela, lançando a cabeça para trás para beber uma quantidade abundante em cada golada. Por entre os seus lábios, uma pequena gota escorreu para o seu pescoço. Sem que Sara se apercebesse, Diana aproximou-se dela e, com a ponta da língua limpou o pescoço de Sara, subindo até bem perto da boca. Surpresa, Sara parou de beber, mas manteve a garrafa suspensa no mesmo sítio, na sua boca, como se a estivesse a usar como um escudo contra Diana... ou contra a sua própria insegurança. Diana recolheu a língua, saboreando o sumo e o toque da pele de Sara e pôs um braço em torno do pescoço de Sara. Depois beijou-a rapidamente por detrás do lóbulo da orelha e fez a ponta da língua deslizar pela lateral do pescoço abaixo, afastando-se em seguida.

Sara pousou finalmente a garrafa e olhou para Diana com um olhar inquisidor, confuso, tentando perceber o que se passava. Diana sorriu ao ver a expressão confusa dela, o ar que tanto a enternecia, e passeou os seus olhos pelo corpo dela, enlevada pelas suas curvas, pela delicadeza das suas formas e pela sensualidade de qualquer posição em que Sara estivesse, pelo seu sex appeal inato. Diana avançou novamente, de frente para Sara, e colocou as mãos acima dos seios de Sara, depositando-lhe um beijo leve nos lábios, à espera da reacção dela. Ela não teve qualquer reacção, para além de uma ligeira inflexão dos lábios como resposta ao beijo de Diana. Diana soltou uma pequena e quase inaudível gargalhada perante a reacção dela e a sua língua pressionou depois contra os lábios de Sara, procurando entrar na sua boca. Não encontrou resistência, e ambas se beijaram profunda mas docemente durante o que lhes pareceu uma bendita eternidade de sublime volúpia e prazer. Subitamente, Sara abraçou furiosamente Diana, mantendo o beijo da mesma forma, mas apertando-a entre os seus braços. Diana interrompeu com suavidade o beijo, olhou para Sara directamente nos olhos, com seriedade e colocou as mãos nas faces dela.

-Não tenhas medo. Por favor, não tenhas medo. Nada vai mudar para pior. Confia em mim, Sara. – uma pequena e silenciosa lágrima escorreu como resposta pela cara de Sara, e ela retomou o beijo, desta feita com mais intensidade, com um maior fogo interior onde a sua consciência se consumia e era obliterada.

As mãos de Sara começaram a percorrer aleatoriamente as costas de Diana, descendo por vezes para lhe apalpar as nádegas firmes e cheias que sempre admirara com alguma inveja, que cobiçara para si... Entretanto já as mãos de Diana se tinham insinuado por debaixo da t-shirt larga e arejada de Sara e já estavam a acariciar-lhe os mamilos entre as pontas dos indicadores e dos polegares, apertando-os com alguma brusquidão.

Diana fez Sara virar-se de costas para ela e continuou a acariciar-lhe os seios com a mão esquerda enquanto descia pelas costas dela e lhe apertava as nádegas com a outra mão, ponteando isso com algumas palmadas sonoras que faziam com que Sara tivesse algumas reservas. Em cima da mesa estava uma faca que uma delas se tinha esquecido de arrumar, de serrilha. Diana agarrou nela e fez deslizar a parte contrária à da lâmina pelo meio das costas de Sara; agarrou na costura lateral das cuecas dela e, usando a faca, rasgou-a, descobrindo assim o seu sexo. A mão que estava a acariciar os seios desceu também, começando agora a estimular directamente o clitóris. O dedo médio entrava ocasionalmente dentro do sexo de Sara, e a mistura de estímulos alternados estava a deixá-la louca. Então, com o cabo da faca, redondo, e aproveitando os sucos que o sexo de Sara abundantemente deixava escapar, Diana começou a acariciar o ânus de Sara, pressionando o cabo como se a quisesse penetrar com ele, para logo depois abrandar e fazê-lo deslizar para perto da vagina dela. Conforme Sara afastou as pernas para mais facilmente receber as carícias, Diana empurrou o cabo, já ensopado agora nos fluídos de Sara, para dentro da vagina dela, começando a penetrá-la com cada vez mais força. Em Sara, a dor misturava-se com o prazer e, não sabendo exactamente mediante qual dos dois (ou se da conjugação de ambos), um explosivo orgasmo sobreveio-lhe repentinamente, quase sem crescendo de prazer, pela emoção do que estava a fazer, do que lhe estavam a fazer.

Depois de se conseguir recompor do prazer que sentira, começou a acariciar o sexo de Diana por cima das suas cuecas, fazendo nada mais senão uma ligeira pressão; entretanto, ao sentir-se acariciada, Diana parou de beijar Sara para lhe morder o pescoço, cravando-lhe os caninos nos tendões e apertando com alguma força, fazendo com que ela sentisse um arrepio que subiu por todo o seu corpo. Diana tirou-lhe a mão de cima do seu sexo de forma brusca, beijou-a na boca agressivamente e, puxando-lhe pelos pulsos, fê-la baixar-se até a cara dela estar ao mesmo nível do seu sexo. Ela mesma puxou as cuecas para baixo, beijando rapidamente a testa de Sara entretanto. Encostou as mãos à parte de trás da cabeça de Sara, e fê-la aproximar-se do seu sexo húmido e desejoso de ser tocado. Sara beijou a sua púbis, acariciando ao mesmo tempo as nádegas de Diana e tocando o ânus dela com a ponta do dedo, de forma provocadora. Depois, ganhando coragem, a sua língua saiu timidamente para ir acariciar o clitóris de Diana, que gemeu aos primeiros toques. Lambendo em movimentos circulares cada vez mais rápidos, e alterando a pressão que fazia, Sara fez Diana aproximar-se cada vez mais da plenitude do orgasmo; conseguia ouvi-la a gemer, e a pressão na sua cabeça aumentava cada vez mais, aproximando-a do cheiro e gosto marcante do sexo depilado de Diana, da sua doçura e calor.

-Os teus dedos... Lá dentro... – suspirou Diana. Correspondentemente, Sara fez deslizar para dentro de Diana dois dedos que a acariciavam com movimentos de vai-vem e à entrada da sua vagina, fazendo com que Diana cravasse as suas unhas na cabeça de Sara, gemendo cada vez mais alto, até atingir finalmente...

A campainha da porta tocou, despertando súbita e violentamente Diana do sonho que estava a ter. Tinha sido Rui, o namorado de Sara. A sua (apenas) companheira de quarto.