Esparsos

domingo, dezembro 24, 2006

Cisão

Olhei para ti, através do espelho que estava perante ambos. Olhei para mim em seguida.

Não entendi a semelhança entre o teu corpo, delineado e rico, luxuriante de curvas torneadas a luz e beleza, e o meu, fraco e capaz apenas de absorver a luminosidade em seu redor. O oposto de ti. Cravei a minha concentração em tudo e em nada ao mesmo tempo. A divisão começou a andar à roda. Eu divido-me de ti, divido-me contigo, misturo-me, separo-me. Perco-me infinitamente dentro desse espaço confinado a mim. Sei que não vives ensimesmada, que me lanças por cada poro aquilo de que necessito para viver. Mas sei que sem saber parar, vou consumir-te. Para sempre, porque esse acto singular não implica a renovação constante da luz que agora desmaia pelo decote do teu vestido e se perde entre os teus seios aconchegados.

Há a convicção que tudo pode ser resolvido, não há? Mas este espelho, este espelho em que ambos confiamos, diz-nos o contrário. Diz-nos que há uma diferença entre sentir e saber, entre querer e ter. Quero-te, mas não tenho a tua luz, não sou igual ou sequer semelhante a ti, capaz de compartilhar das mesmas emoções, dos mesmos sentimentos!

Sopro-te um beijo pelo ar, através do reflexo no espelho, e mudo de canal na televisão.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Reflexo

Catarina sentia-se aturdida com o que sentira. Estava em choque ainda, não conseguia perceber porque é que tudo o que ela sempre quisera se tinha materializado em frente aos seus olhos e ela tinha rejeitado, fugido mesmo. Não fazia sentido. Medo? Sim, talvez. Medo do desconhecido, medo de experimentar algo novo, algo com que sempre sonhara, desde pequena. Mas não era apenas medo; não podia ser só esse sentimento, que ela tanto desprezava, que tinha guiado as suas acções, os seus passos para longe do que desejava.

Não, havia ali um componente mais, havia ali uma expectativa que poderia sair frustrada, e ela não aguentaria ver as ilusões de tantos anos transformarem-se em nada de um momento para o outro.

Fechou os olhos, enquanto estava sentada frente a uma televisão onde apenas passavam as imagens, e reviveu pela milionésima vez aquilo que tinha acontecido. Depois de muita insistência por parte dele, finalmente acedera a ir lá a casa, para a conhecer por dentro... Sim, é claro que ela sabia o que ele tinha em mente, mas também ela tinha o mesmo em mente. Só não quis que isso fosse demasiado... óbvio para ele. Queria continuar a alimentar a sua fome; o seu desejo de a ter fazia-o agir de uma maneira que lhe agradava... muito. Catarina não queria que fosse apenas um contacto breve e sem sentido, queria também fazer algo que honrasse aquilo que ambos sentiam, que celebrasse esse sentimento, como tantas vezes tinha visto nos filmes dessa mesma televisão que estava agora muda, ou como tinha lido nos livros que ganhavam pó nas prateleiras – tanto as da sua mente como as da sua casa.

Ela subira com ele os degraus até ao primeiro andar, entrando pela porta esquerda, para a casa dele. A penumbra em que o hall estava mergulhado foi desde logo cortada por um clique plástico – o som dele a acender o interruptor. Também nessa altura fechara os olhos, mas para tentar sentir alguma da interioridade dele naquele espaço pessoal. Tentava detectar algum odor da vivência dele naquela casa, algo particular, que ajudasse a recordá-lo quando estavam longe e sem possibilidades de se verem, algo que pudesse funcionar como um toque, como uma carícia dentro do etéreo mundo das recordações que tão vivamente despertavam no seu espírito de vez em quando, ameaçando arrancar-lhe toda a ligação com a realidade do presente. Ele disse-lhe que era bem vinda naquele seu espaço, e mostrou-lhe o resto da casa de relance.

Com a mente perdida em considerações (e em contemplações do homem que estava ali, tão perto dela e tão longe de uma carícia mais manifestamente ousada) Catarina foi seguindo o fio da conversa, auxiliada pelo copo de vinho branco que lhe tinha sido servido. O seu odor forte e o seu sabor intenso, que não deixavam de provocar uma certa aspereza ao passar pela garganta dela, serviam, mais do que a ingestão da própria bebida, para a inebriar. Parecia que os seus olhos, por muito que ela tentasse, ficavam presos numa posição tal que apenas conseguiam ver os olhos dele, o seu castanho quase vulgar mas com um toque de subtileza que se notava pelo vestígio da cor da noite profunda pontilhada aqui e ali. E depois, muito depois, é que deslizavam pelo rosto, passavam pelos lábios acetinados, pela barba já a despontar novamente por ter sido feita demasiado cedo, pelo maxilar forte e definido, cujas linhas lhe apascentavam a contemplação até ao pescoço... Aquele pescoço não era excessivamente grosso, como vira tantas vezes, mas tinha algumas particularidades muito interessantes. Quando Catarina olhara para ele uma primeira vez, tinha visto apenas um pescoço, uma zona onde poderia divertir-se a provocá-lo com beijos, com leves dentadas de intensidade variável... Mas agora via a maçã de adão saliente, saltitando para cima e para baixo consoante aquela voz grave se escapava por entre os seus lábios, qual água que lavava dos seus sentidos a poeira e a normalidade do dia-a-dia. Via a veia saliente que ia alimentar de férreo quente sangue o sequioso cérebro de onde surgiam sedutoras ideias de sentimentos despertos por ela; o sangue que aquecia o seu corpo era o sangue que aquecia a sua paixão por ela, e era por ele, veículo de vida que bombeava em todo o seu corpo, em toda a sua energia esfuziante, que ela queria conhecer os doces estertores do prazer final, do prazer total que iria consumir a sua consciência de si num momento de fusão absoluta ou de dispersão total, de uma ausência de ser que só se concretizaria no momento em que as vibrações consonantes de ambos os corpos se encontrassem num ponto para além da experiência passível de ser pensada na totalidade.

Ele não via o ar absorto dela ou, se o via, confundia-o com aborrecimento, deixava-o mais nervoso, mais ansioso por agradar, mais desejoso dela e também mais temeroso pela possibilidade de falhar. De falhar em todos os aspectos que ela esperara dele, e que ele mesmo esperara poder dar de si, poder dar para si e para si-como-ela. Assim, a surpresa dele foi grande quando ela se levantou – deu-se esse momento horrível em que ele viu, de uma maneira que só o medo em toda a sua plenitude inspira, Catarina a levantar-se e a sair – e o beijou em cheiro nos lábios. O travo do vinho que ela bebera, apesar de ser igual ao que ele mesmo tinha no copo, penetrou-lhe fortemente na boca, inspirando-o a retribuir sem pensar em mais nada. A língua dela entrava pela sua boca, escorregadia, e parecia querer fugir aos contactos que ele tentava fazer com a sua própria língua, parecia querer evitar a sua extremidade, acariciando para isso o céu da boca, ou fugindo para fora da boca dele, tocando apenas e ao de leve os seus lábios, ou a parte que não estava completamente entregue ao beijo, à doçura e voluptuosidade dos lábios dela.

Ele fê-la sentar-se ao seu colo, de lado, continuando os beijos e complementando-os com carícias a todo o comprimento da coluna dela, ou fazendo as suas mãos entrar por entre a abundante e rica cabeleira ruiva dela. As mãos dela enrolavam-se à volta do pescoço dele, afagando-lhe também as orelhas e as faces, sentindo a aspereza da já não perfeitamente escanhoada pele, enquanto que o desejo de ambos crescia. Por dentro, Catarina começava a sentir uma espécie de leveza, como se toda ela fosse feita de um qualquer volátil componente que, com a paixão a aquecer ambos os corpos, se tivesse transformado em pura essência à deriva dentro de si mesma, ou para fora de si, por cada poro e reentrância do seu corpo.

As acções conduziam-se sozinhas, as vontades conscientes suspensas por um desejo maior do que o controlo da convivência quase plastificada entre duas pessoas que, querendo, não podem tocar o mais profundo da outra. Ele encaminhou-a para o quarto dele, onde de pé continuaram a beijar-se, com uma intensidade crescente, com beijos cada vez mais profundos, mais demorados e mais ousados, em que o que sentiam se exprimia a cada suspiro que deixavam escapar, ou a cada pequena mordidela afectuosa que infligiam um ao outro. A ansiedade era apenas a do início, pois subitamente ambos pareciam ter deixado qualquer pretensão a ter pressa ou a querer apressar o que quer que fosse. Existia apenas o momento, o momento das carícias e do conforto que podiam proporcionar um ao outro através da união dos seus corpos, através das suas vontades como seres de desejo intenso.

O contacto foi repentinamente quebrado quando ela se afastou dele e o olhou selvaticamente, com um fogo nos olhos que parecia ser capaz de engolir tudo o que estava à sua volta, especialmente o homem inflamado de desejo que esperava ardentemente para ver qual seria a próxima decisão dela, perdido que estava entre as hesitações de outrora e o desembargado desejo com que o brindava, minando-lhe as noções do que esperar daquela noite. Enquanto ela o contemplava, os seus lábios moveram-se quase imperceptivelmente, e uma palavra foi sussurrada tão levemente que ele não soube se a ouviu ou se apenas a leu no movimento intenso e quente da boca. Mas a intenção foi clara e o sorriso lúbrico que ela fez em seguida vieram tirar quaisquer possíveis dúvidas; os seus lábios tinham formado a palavra “despe”. Sem referências ao quê, sem saber se ela queria que ele se despisse todo, ou apenas uma parte da roupa, para poder divertir-se a contemplar... Tentou fazer um ar inquisitivo, para dar a entender que queria que ela fosse mais específica mas, como resposta, recebeu apenas um sorriso ainda mais rasgado, demonstração da aprovação dela pela sua confusão. Catarina estava a agir de uma maneira que ele nunca poderia ter previsto; nunca teria sonhado que a timidez dela, uma das partes que, ao fazer com que ela resistisse a todos os seus avanços, apenas a tornara ainda mais desejável e apetecida, pudesse por detrás esconder uma tão grande demonstração de vontade de prazer, de um certo requinte que ia para além da simplicidade animal do mero acto cru e simples, rápido e mais preocupado em ser eficaz do que agradável para os sentidos... O que ele temera estava daquela forma a ser desmistificado, ele via sorrir-lhe a Fortuna, e nada no momento o poderia ter deixado tão contente. Só tinha a ganhar; alinhou na brincadeira.

Lentamente, olhando-a sempre nos olhos para manter a força e a intensidade da intenção dela, ele começou a despir a camisa. O olhar aprovador dela incentivou-o a continuar; botão a botão o seu peito começou a poder entrever-se. Os peitorais não estavam muito bem definidos, os mamilos, pequenos e escuros, estavam arrepiados e duros, denotando o prazer que ele sentia na pequena brincadeira. O seu ventre liso não era parte de nenhum arquétipo de beleza, apenas apelava a Catarina pelo seu lado menos agressivo e dominador. O tecido de azul profundo caiu aos seus pés quando desabotoou os punhos, e ela olhou aprovadoramente para o torso dele, como se estivesse a avaliar algo que ela mesma tinha feito com as suas próprias mãos. Com o indicador da mão direita, Catarina traçou nele uma linha que partia desde a base do pescoço até à linha da cintura das calças, procurando de todas as formas conseguir excitá-lo, provocar-lhe um desejo tal que ele fosse incapaz de resistir.

Ele lançou as mãos em direcção à blusa que Catarina tinha vestida, como se para a despir; ela agarrou-lhe os pulsos, prendendo-o e fazendo com a cabeça um gesto negativo, mas ao mesmo tempo provocatório, para que entendesse que quem estava ali a controlar a situação era ela. Depois de lhe beliscar um dos mamilos, Catarina subiu para cima da cama dele... Já tendo tirando antes os sapatos, ela deitou-se em cima da cama. Foi aí que algo confundiu Catarina, que sempre se tinha esforçado para ser uma rapariga completamente honesta e cumpridora de um certo tipo de decência que julgava partilhada por todas as pessoas – estes dois desejos (cumprir ou não cumprir), ao não poderem coincidir presencialmente numa mesma forma de agir, agiam como sendo quase duas pessoas diferentes, duas partes de Catarina que ela desejava sempre manter controladas.

Lentamente, começou a desapertar o fecho da saia, enquanto fazia com as pernas movimentos provocatórios em direcção a ele. A saia deslizou para longe, empurrada pelas mãos dela, e agora ele podia ver as pernas alvas, bem torneadas, que pareciam convidar a carícias, e as cuecas negras, com aplicações de renda, quase transparentes, quase deixando antever o objecto do seu desejo. Ela passou as mãos por entre as coxas, e com um movimento suave acariciou o seu sexo já ardentemente desejoso de carícias mais profundas, de outras mãos que não as suas. Ele avançou para a beira da cama, perpendicularmente a ela, e ela esticou a mão, acariciando-lhe o sexo por cima das calças, sentindo a sua dureza sedutora e que a faziam querer suspender o jogo, eliminá-lo de todo... Ele semicerrou os olhos numa expressão de antecipação do prazer, mas ela não se demorou nas carícias, preferiu continuar a tocar as suas próprias pernas, arrastando depois os movimentos para o ventre, subindo por dentro da blusa e por cima dos seios, voltando para baixo muito lentamente. Prendeu os dedos em volta das cuecas e começou a baixá-las, mas parou antes sequer de ele conseguir vislumbrar algo mais que um pouco de pele. Por sua vez, ele desapertou as calças e tirou-as desajeitadamente, quase perdendo o equilíbrio; através dos boxers ela viu o volume altaneiro e poderoso do seu sexo, imaginando-o dentro de si, a preenchê-la. Ela queria-o, mas queria fazê-lo esperar. As pernas bem definidas dele mostravam que o seu trabalho exigia um constante movimento; ela pensou que isso seria sem dúvida útil quando chegasse a altura de a penetrar – poderia sem dúvida aguentar bastante. A blusa que tinha quase misteriosamente desaparecera, ela tinha-a tirado sem disso ter tido consciência. O seu soutien era realmente revelador, o tecido mostrava a pele engorgitada dos mamilos já duros. Ele olhou fixamente para o corpo ardente que desejava possuir, o seu sexo latejava como se fosse explodir de prazer mesmo antes de ela lhe tocar realmente, mesmo sem o orgasmo irromper para fora dele. Algo nela atraía o olhar dele como nunca antes, uma aura que não conseguia definir prendia-o aos hábitos pouco corriqueiros de Catarina.

Ele ajoelhou-se em cima da cama, ao lado dela. Catarina baixou a parte da frente dos elásticos e justos boxers dele e o seu sexo ficou a descoberto. Com um dedo, percorreu-o em todo o comprimento, de cima para baixo, na parte inferior, terminando com uma leve carícia ao seu escroto, tudo ligeiros toques que o fizeram exalar fortemente, com o prazer potencial à espera de libertação. Os boxers voltaram ao sítio e ela agarrou na mão dele, conduzindo-a por entre os seus seios, através da planície do seu ventre e por dentro das suas cuecas. Quando o dedo dele chegou à separação entre os grandes lábios dela, perpassou-lhe um sorriso pelos lábios, e a sua atenção aumentou no desejo de a fazer sentir prazer, muito prazer... O dedo tocou na mais sensível zona dela, mas a mão de Catarina guiou-o para mais longe, mais para baixo; entre os seus pequenos lábios ele conseguia sentir os fluídos dela, a marca do seu prazer a auxiliar o dedo a percorrer o sexo dela, a ponta do dedo médio a aflorar a entrada dos seu sexo e, por fim, a penetrá-la lentamente, o ritmo sempre guiado por ela, que firmemente agarrava o pulso. Depois, puxou-lhe gentilmente a mão para fora das cuecas. O olhar dele ficou confuso de novo, ele sabia que ela ainda não tinha sentido verdadeiramente prazer – excepção feita ao prazer de estar a provocá-lo... Ele levou o dedo ainda húmido à boca, saboreando-a preliminarmente. O sabor era ligeiramente ácido, diluído logo pela saliva dele e despertava uma sensação de proximidade que apenas lhe acicatava ainda mais o desejo. Ela olhou-o nos olhos, depois de o ter deixado provar os seus fluídos, e sorriu maliciosamente, tentando ver nele se tinha apreciado a dádiva.

Catarina apoiou-se num cotovelo e debruçou-se sobre ele, que de joelhos passava agora a estar deitado, a protuberância do seu falo destacando-se claramente abaixo do seu ventre definido e apenas ligeiramente esculpido. Novamente, ela puxou uma parte dos boxers dele, mas desta vez prosseguiu, retirando-os pouco a pouco, beijando as pernas conforme descia. Quando finalmente ele se encontrava nu e à sua mercê, regressou. Fez passar as palmas das mãos abertas sobre as pernas dele, até chegar ao seu latejante sexo, que tomou entre as mãos e começou a acariciar docemente, muito lentamente, provocando nele movimentos quase involuntários que tinham como objectivo prolongar a excitação, torná-la mais profunda, mais intensa. Foi então que, subitamente, a boca dela se lançou bruscamente sobre o pénis dele, fazendo-o entrar repentinamente. Assustado, ele teve a ilusão – ou talvez uma ligeira sensação – de dor, que logo se desvaneceu ao sentir a língua de Catarina tornear ao longo do seu quente e encorpado falo, tocando titilantemente os pontos mais erógenos, as zonas que mais o enlouqueciam, como se soubesse desde sempre aquilo que ele mais gostava. A boca dela começou com pequenos movimentos de vai-vem, chupando-o em compassos alternados de rapidez e lentidão que continuamente o frustravam, em ondas de prazer que o deixavam à beira de perder o controlo, mas que logo se afastavam, não deixando por isso de fazer sentir a sua presença. As mãos dele percorriam sem nexo a cabeça dela, deixando cravadas as marcas do que estava a sentir. Os lábios dele contorciam-se, eram mordidos por ele mesmo, querendo porventura sentir ali outro pedaço de corpo ao qual fazer o mesmo; ele ansiava por tocá-la também, por poder também brincar com o corpo dela e fazê-la sofrer um pouco a espera retardada do orgasmo que é negado.

Ele puxou-a subitamente para cima, passando a mão direita pelo lado do corpo dela, descendo até à base da coluna apenas para depois regressar, com um toque leve e arrepiante, ao sítio onde os colchetes o impediam de contemplar por fim os belos seios de Catarina, de os morder, lamber e chupar, de os mordiscar até ela sentir um pouco de dor, que depois faria contrastar com carícias após carícias orgásmicas e plenas. A sua fome tinha crescido, tal como Catarina pretendera; parecia agora que nada o poderia parar, que os jogos de Catarina o tinham levado para além do limite de resistência, de controlo. Ele queria Catarina, ele queria penetrá-la profundamente, queria saborear com a língua os vários contornos do seu sexo, queria estimular com as suas mãos os pontos mais sensíveis, provocar as sensações mais inacreditáveis. A espera tinha-se acumulado dentro dele e teria que se soltar, ele tinha que se soltar, tinha que deixar que a besta dentro de si, carnal e desejosa da loucura última, se manifestasse através de si no corpo dela. Porém, Catarina mostrou-se relutante em largar o soutien, prendendo-o com os braços junto ao corpo. Algo mudou repentinamente, e o olhar dela contraiu-se ao se encontrar com o dele. Ao olhar para o lado, Catarina viu o seu reflexo em cima dele, viu a ponta do falo dele a roçar-lhe ao de leve por entre as pernas, em busca quase involuntária de alguma satisfação antes do momento final e total. Viu o olhar dele num momento transformar-se em algo mais, viu despertar nele uma espécie de poder insuspeito que a queria arrebatar num sem-fim de impactos sensórios puramente irracionais e incontroláveis.

Conforme Catarina se lembrava do sucedido, as mãos tinham escorregado para dentro das cuecas, e ela estava agora a masturbar-se agressivamente, um dedo a estimular o clitóris quase até à dor, e dois dedos dentro de si, a simular uma necessidade que não via satisfeita, tocando as cavidades da sua vagina sem sensibilidade aos danos que as unhas estavam a fazer, com os seus fluídos de prazer a facilitar as bruscas arremetidas a que se sujeitava voluntária e lascivamente; os seus sentidos perdiam as referências, estavam entregues apenas às carícias que as mãos lhe podiam dar. Quando se tocava, Catarina afastava-se do mundo, de tudo e de todos, entregava-se ao esquecimento... mas nunca mais a partir dessa vez. Apesar de tudo o que de bom tinha sucedido, queria tirar da cabeça aquela recordação, queria poder apagar o que se tinha passado. Tudo aquilo era para ela incrivelmente excitante, mas queria conseguir livrar-se da recordação última pois, no momento seguinte, estava de pé a agarrar a roupa espalhada pelo chão e pela cama, vestindo-se furiosamente, afastando-se dele, sem responder sequer a uma única pergunta, deixando-o na sua confusão plena, apenas com o reflexo dela mesma em cima dele, do sexo dele a roçar-se na parte interior das coxas dele e das suas mãos insistentemente a procurar devassar os seus seios. Algo do seu antigo ser voltou e assustou-a, algo do passado que mantinha escondido dentro de si; encarar a realidade do acto feriu-a e, mais uma vez, a sua virgindade se manteve de forma frustrante plenamente intacta, gozando dela e da sua fraqueza, mesmo no momento em que os seus dedos lhe davam o doce esquecimento de um orgasmo arrebatador...

sábado, dezembro 16, 2006

Metalmente violada

A tua mão. Senti a tua mão dentro de mim. Dentro da minha cabeça. Dentro do meu cérebro. A tua mão passou pela base do meu pescoço, subiu, arrepiou-me e depois, lentamente, entrou dentro do meu cérebro. As pontas dos teus dedos não se preocuparam com o meu cabelo ou com a minha pele, atravessaram o meu crânio e perderam-se nos meandros das redes neuronais que me amarravam a esta realidade. Tu desfizeste-os e soltaste-me. Pensei que assim, apaixonada, entregue a alguém, teria o que nunca tive. Teria paz. Teria olhos a olharem-me, teria mãos a percorrerem-me o corpo. Finalmente.

Só que isso não parou por ai. Depois disso, as tuas mãos saíram rapidamente. Com força. E deixaram fios para trás, fios que ligavam o meu cérebro às tuas mãos, como um bonecreiro. Foi nesse instante que criaste novas redes para mim. Foi nesse instante que me fizeste fazer, sentir e dizer o que eu não faria, sentiria ou diria. Foi nesse momento que deixaste o meu corpo frio, o meu corpo que queria arder de desejo contigo.

E agora, que morri e voltei, cortei as amarras, remeti-te às profundezas da manipulação que tanto adoras, deixando-te de mãos vazias, com apenas o teu corpo para controlarem.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Pensamento

A chuva não caía sob uma noite escura; aliás, nem sequer era de noite. O dia de Agosto estava quente e os efeitos do Sol que ainda há pouco estivera no seu pináculo faziam-se sentir. O ar soprava quente, pesado, fazendo ofegar quem o inalava, oprimindo quem por ele fosse atingido. Nem as janelas abertas da casa de Sara conseguiam fazer algo contra isso; ela submetia-se, estando sentada no sofá, apenas com um soutien desportivo e uns shorts justos, um copo de água gelada ao seu lado e a transpiração a acumular-se no seu corpo.

Perguntava-se como é que alguém poderia adormecer com esse calor; mas Diana ali estava, no quarto ao lado. O gelo no copo de Sara derretia rapidamente, mas mesmo com aquele calor não podia impedir os seus pensamentos. Quando passara pelo quarto dela tivera o impulso de espreitar, olhando para isso através da frincha da porta entreaberta do quarto. Vira-a deitada, os seus membros a ocupar toda a cama, a cabeça de lado, com o cabelo negro a recobrir-lhe parcialmente a expressão de paz. Parecia que nada a podia perturbar, que tudo o que se passava no mundo à sua volta era apenas uma miragem, um mero pensamento sem realidade palpável. As suas pernas desnudas e suavemente contornadas apenas pelo afago do ar de uma ventoinha a um canto do quarto estavam ligeiramente afastadas – Sara conseguiu por um momento entrever o espaço entre elas, as sua lingerie cinzenta e semi-transparente que deixava verdadeiramente à imaginação apenas o mais secreto dos seus lugares. A sua pele pálida permitia que se visse, ao perto, algum do doce e escuro traçado das veias que transportavam nela o líquido da vida; Sara, porém, não se atreveu a entrar, a perturbar o sono de Diana. Afastara-se e fora para a sala. Sentou-se no sofá de novo, mas a televisão não estava a dar nada de interessante, Sara não tinha nada para fazer (ou nada que lhe apetecesse realmente fazer) e estava demasiado calor para ter coragem para sair à rua. Além disso, não tinha nada que quisesse fora daquela casa. Não podia deixar Diana sozinha.

Levantou-se para ir ao frigorífico buscar um refresco, porque a água tinha adquirido o sabor estranho do gelo lá dentro derretido. Contornou o sofá e abriu depois na cozinha a porta do frigorífico, aproveitando a frescura que dele emanava enquanto olhava para o seu interior, para decidir o que iria beber. Quando já quase se decidira a beber o sumo de laranja, não deixando ainda de pensar na sua companheira de casa que tinha aceite partilhar a renda e as despesas para mais facilmente suportar a competitividade do mundo dos negócios em que ambas se moviam, debruçou-se para agarrar a garrafa de sumo. Sentiu nesse momento uma mão a meio das costas; assustada, voltou-se para trás – era Diana, ainda com uma cara ensonada, que tinha acordado e que se tinha aproximado tão doce e lentamente que Sara nem a tinha ouvido.

-Ah, és tu! Que susto... – disse Sara, repentinamente.
-Quem mais querias que fosse? – riu Diana.
-Não sei... Esquece, estava tão distraída que até me esqueci que estavas aqui! E como estavas a dormir, ainda pior. ...Então, dormiste bem? Como é que tu consegues dormir com este calor, afinal de contas?
-Sei lá... Dormindo! Mas sim, dormi bem. Mais vale estar a dormir e não sentir este calor todo do que andar aqui para trás e para a frente. O que é que vais beber, afinal? Ou estás aí só a aproveitar o fresquinho do frigorífico? – as palavras de Diana fluíam, para Sara, como uma brisa fresca e redentora.

Sara não respondeu, limitou-se a baixar-se para pegar na garrafa de sumo de laranja natural e bebeu directamente dela, lançando a cabeça para trás para beber uma quantidade abundante em cada golada. Por entre os seus lábios, uma pequena gota escorreu para o seu pescoço. Sem que Sara se apercebesse, Diana aproximou-se dela e, com a ponta da língua limpou o pescoço de Sara, subindo até bem perto da boca. Surpresa, Sara parou de beber, mas manteve a garrafa suspensa no mesmo sítio, na sua boca, como se a estivesse a usar como um escudo contra Diana... ou contra a sua própria insegurança. Diana recolheu a língua, saboreando o sumo e o toque da pele de Sara e pôs um braço em torno do pescoço de Sara. Depois beijou-a rapidamente por detrás do lóbulo da orelha e fez a ponta da língua deslizar pela lateral do pescoço abaixo, afastando-se em seguida.

Sara pousou finalmente a garrafa e olhou para Diana com um olhar inquisidor, confuso, tentando perceber o que se passava. Diana sorriu ao ver a expressão confusa dela, o ar que tanto a enternecia, e passeou os seus olhos pelo corpo dela, enlevada pelas suas curvas, pela delicadeza das suas formas e pela sensualidade de qualquer posição em que Sara estivesse, pelo seu sex appeal inato. Diana avançou novamente, de frente para Sara, e colocou as mãos acima dos seios de Sara, depositando-lhe um beijo leve nos lábios, à espera da reacção dela. Ela não teve qualquer reacção, para além de uma ligeira inflexão dos lábios como resposta ao beijo de Diana. Diana soltou uma pequena e quase inaudível gargalhada perante a reacção dela e a sua língua pressionou depois contra os lábios de Sara, procurando entrar na sua boca. Não encontrou resistência, e ambas se beijaram profunda mas docemente durante o que lhes pareceu uma bendita eternidade de sublime volúpia e prazer. Subitamente, Sara abraçou furiosamente Diana, mantendo o beijo da mesma forma, mas apertando-a entre os seus braços. Diana interrompeu com suavidade o beijo, olhou para Sara directamente nos olhos, com seriedade e colocou as mãos nas faces dela.

-Não tenhas medo. Por favor, não tenhas medo. Nada vai mudar para pior. Confia em mim, Sara. – uma pequena e silenciosa lágrima escorreu como resposta pela cara de Sara, e ela retomou o beijo, desta feita com mais intensidade, com um maior fogo interior onde a sua consciência se consumia e era obliterada.

As mãos de Sara começaram a percorrer aleatoriamente as costas de Diana, descendo por vezes para lhe apalpar as nádegas firmes e cheias que sempre admirara com alguma inveja, que cobiçara para si... Entretanto já as mãos de Diana se tinham insinuado por debaixo da t-shirt larga e arejada de Sara e já estavam a acariciar-lhe os mamilos entre as pontas dos indicadores e dos polegares, apertando-os com alguma brusquidão.

Diana fez Sara virar-se de costas para ela e continuou a acariciar-lhe os seios com a mão esquerda enquanto descia pelas costas dela e lhe apertava as nádegas com a outra mão, ponteando isso com algumas palmadas sonoras que faziam com que Sara tivesse algumas reservas. Em cima da mesa estava uma faca que uma delas se tinha esquecido de arrumar, de serrilha. Diana agarrou nela e fez deslizar a parte contrária à da lâmina pelo meio das costas de Sara; agarrou na costura lateral das cuecas dela e, usando a faca, rasgou-a, descobrindo assim o seu sexo. A mão que estava a acariciar os seios desceu também, começando agora a estimular directamente o clitóris. O dedo médio entrava ocasionalmente dentro do sexo de Sara, e a mistura de estímulos alternados estava a deixá-la louca. Então, com o cabo da faca, redondo, e aproveitando os sucos que o sexo de Sara abundantemente deixava escapar, Diana começou a acariciar o ânus de Sara, pressionando o cabo como se a quisesse penetrar com ele, para logo depois abrandar e fazê-lo deslizar para perto da vagina dela. Conforme Sara afastou as pernas para mais facilmente receber as carícias, Diana empurrou o cabo, já ensopado agora nos fluídos de Sara, para dentro da vagina dela, começando a penetrá-la com cada vez mais força. Em Sara, a dor misturava-se com o prazer e, não sabendo exactamente mediante qual dos dois (ou se da conjugação de ambos), um explosivo orgasmo sobreveio-lhe repentinamente, quase sem crescendo de prazer, pela emoção do que estava a fazer, do que lhe estavam a fazer.

Depois de se conseguir recompor do prazer que sentira, começou a acariciar o sexo de Diana por cima das suas cuecas, fazendo nada mais senão uma ligeira pressão; entretanto, ao sentir-se acariciada, Diana parou de beijar Sara para lhe morder o pescoço, cravando-lhe os caninos nos tendões e apertando com alguma força, fazendo com que ela sentisse um arrepio que subiu por todo o seu corpo. Diana tirou-lhe a mão de cima do seu sexo de forma brusca, beijou-a na boca agressivamente e, puxando-lhe pelos pulsos, fê-la baixar-se até a cara dela estar ao mesmo nível do seu sexo. Ela mesma puxou as cuecas para baixo, beijando rapidamente a testa de Sara entretanto. Encostou as mãos à parte de trás da cabeça de Sara, e fê-la aproximar-se do seu sexo húmido e desejoso de ser tocado. Sara beijou a sua púbis, acariciando ao mesmo tempo as nádegas de Diana e tocando o ânus dela com a ponta do dedo, de forma provocadora. Depois, ganhando coragem, a sua língua saiu timidamente para ir acariciar o clitóris de Diana, que gemeu aos primeiros toques. Lambendo em movimentos circulares cada vez mais rápidos, e alterando a pressão que fazia, Sara fez Diana aproximar-se cada vez mais da plenitude do orgasmo; conseguia ouvi-la a gemer, e a pressão na sua cabeça aumentava cada vez mais, aproximando-a do cheiro e gosto marcante do sexo depilado de Diana, da sua doçura e calor.

-Os teus dedos... Lá dentro... – suspirou Diana. Correspondentemente, Sara fez deslizar para dentro de Diana dois dedos que a acariciavam com movimentos de vai-vem e à entrada da sua vagina, fazendo com que Diana cravasse as suas unhas na cabeça de Sara, gemendo cada vez mais alto, até atingir finalmente...

A campainha da porta tocou, despertando súbita e violentamente Diana do sonho que estava a ter. Tinha sido Rui, o namorado de Sara. A sua (apenas) companheira de quarto.