terça-feira, fevereiro 22, 2005

Quarto crescente

Por fim tinha conseguido aquilo que queria! Por fim, aquela coisa a que chamam felicidade! Ali, à minha frente! Diverti-me tanto! Jantámos, fomos ao cinema e para acabar a noite fomos passear para perto do rio, a ver a Lua reflectida nas águas apenas ocasionalmente perturbadas pelo rumorejar distante de um qualquer barco.

Os nossos dedos já se tinham aninhado uns nos outros e tudo estava calmo; mesmo o vento tinha amainado apenas para nós. Decidi parar e tu paraste também. Olhei-te nos olhos. Não sei se sabes, mas os olhos foram uma das primeiras coisas para as quais olhei quando te vi pela primeira vez. Não têm nenhuma cor exótica, eu sei. São de um castanho bastante claro, mas têm uma outra particularidade muito mais significativa - é através deles que consigo ver o que se passa contigo. Diz-se sempre que "os olhos são o espelho da alma", mas essa expressão ganha alguma palidez quando se compara com a forma como um simples olhar teu pode transmitir uma panóplia de sentimentos que parece nunca mais acabar. Naquele momento o teu olhar transmitia uma ternura sem paralelo, algo que - confesso-o - nunca antes me tinha sido dirigido plenamente. Certamente terás amado e sido amada por muitas pessoas... eu não tive a mesma sorte. Só agora consigo perceber o que é que essa palavra quer dizer, pelo menos agora estou a começar a descobrir. Até aqui, tinha satisfeito o corpo sempre que possível (e nem nisso tinha tido grande sorte), mas agora começo a perceber porque é que a paixão é tão avassaladoramente boa. Porque é que a paixão nos rouba a consciência de tudo o que não está directamente relacionado com a felicidade que sentimos.

Disse as palavras que sentia explodirem dentro de mim, impressionando até a mim mesmo, tanto pelo conteúdo, como pela rapidez de como tudo se tinha precipitado. Olhei-te nos olhos e disse "Amo-te". E tu sorriste para mim. Não consigo descrever o sentimento de puro êxtase e felicidade que sobreveio na minha alma nesse momento. Fechaste os olhos, mantendo esse teu lindo e sublime sorriso e beijaste os meus lábios docemente. Abraçámo-nos e continuamos a beijar-nos debaixo da Lua em fase crescente. O arco de Cupido disparara sobre nós... sobre mim, pelo menos! Se soubesses o tempo que eu esperei por isto!...

...Acordei de repente, sozinho na cama, soergui-me e vi que eram cinco da manhã. Amaldiçoei a chuva que me fizera acordar e que me tirara do sonho perfeito. Voltei a deitar-me na esperança de retomar o sonho, antes de ter que acordar de novo para ir para o trabalho.