quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Lua

A Lua brilhava no céu nocturno e eu uivava à Lua. É daquelas coisas que toda a gente devia fazer - ao invés, preferem ficar presos nas suas gaiolas de comportamento exemplar, feitas de respeito, orgulho e preconceito. A Lua estava cheia: eu simplesmente tinha que uivar! Nunca o fizeram?! Então não critiquem.

A sensação mais estranha atingiu-me então. Todo o cansaço de uma vida vivida a correr parecia evaporar-se com cada uivo agudo que fazia penetrar a escuridão, e ao mesmo tempo parecia que eu me estava a encolher sobre mim mesmo. Tudo estava tão diferente... Consegui atingir aquele estado de comunhão com o que me rodeava (lá alto, no espaço, presa à Terra, mas num movimento de mútua dependência), algo que nunca antes me acontecera. Eu espalhava-me agora por entre todas as estrelas do universo, percorria tudo e era tudo, a uma velocidade incomparavelmente superior à da luz, sem descanso e sem cansaço, estando consciente de todas as coisas em mim e de mim em todas as coisas.

Quando tudo acabou, eu era um lobo. Saí para tentar encontrar a floresta mais próxima ao abrigo da noite. A minha vida estava a começar finalmente.