segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Argumentos

Era ao volante de um carro que me conseguia sentir bem. Que conseguia libertar a minha tensão acumulada.

Conseguimos discutir mais uma vez. Não sei como, mas devemos, com certeza, bater algum record de discussões consecutivas. Hoje foi mais um daqueles episódios que mais valia conseguir esquecer; mas que permanece, que se acumula aos outros, que escorre em mim para vir encher a ampulheta da minha impaciência. Se tão-somente pudesses dar-me um pouco de paz...!
Sim, eu sei que ontem cheguei tarde a casa; sim, eu sei que ontem não atendi o telefone da empresa; sim, eu sei que vinha muito cansado mesmo, para quem esteve em frente a um computador a rever textos! Eu sei todas essas coisas: passaram-se comigo! Mas não: sentes que tens que perguntar tudo, que tens que questionar tudo, tens que saber cada passo que dei desde que saíste de pé de mim! Porquê?! Porque é que me obrigas a mentir-te e a inventar desculpas? Sim, eu sei que estive com outra mulher, mas simplesmente porque já não suporto esses teus interrogatórios, porque me sufocas em preocupações, porque aquilo que sinto... ...ainda não mudou completamente. Eu ainda te amo, mas sinto-me furioso contigo por me obrigares a fazer isto! Eu não queria, a sério! Tenta não me possuir, tenta não me prender! NÃO ME PRENDAS!

O carro voou contra o rail de protecção e embateu de frente contra o monte em que a estrada tinha sido escavada. A explosão que se vê nos filmes não aconteceu, mas o carro foi comprimido, e com ele também eu fui despedaçado, estraçalhado... Morri. Ridícula, a minha morte. ...Tal como as minhas desculpas a mim próprio.