Ícaro renovado
Bastava erguer os braços e lá ia eu pelos ares, rompendo todas as camadas de átomos que se misturam na atmosfera, sentindo o peso que a gravidade me impõe a todas as alturas a abandonar-me lentamente, como se me fosse levantado (não, recuso-me a dizer "de cima dos ombros" ou "de cima de mim") o jugo que me tinham imposto quando me condenaram a não ser por predefinição uma criatura alada.
Mas agora tudo tinha mudado, agora eu conseguia romper as barreiras estreitas e castradoras que me tinham imposto (pensavam eles que permanentemente) e podia ver as coisas de uma nova forma, mais aérea, mais abrangente da totalidade que, afinal, é a melhor forma de ver as coisas. Quando estava com os pés bem assentes na terra, era isso que me fazia lamentar a minha falta de sorte: só conseguia uma perspectiva que nem 180º graus tinha, uma perspectiva reduzida e minúscula, como se a realidade fosse tudo aquilo que eu podia ver num determinado momento e nada mais do que isso. É natural que eu continuava limitado (biologicamente falando) a uma visão não-omnisciente. O que mudara é que agora a minha visão conseguia abarcar mais mundo, mais realidade, mais verdade, por conseguinte.
O busílis é que, passado muito pouco tempo deste meu maravilhoso voo inaugural, comecei a aborrecer-me de tudo aquilo. Olhava para baixo, vendo a rua transformar-se em quarteirão, o quarteirão em bairro, o bairro em cidade... não preciso de continuar, pois não? Que treta, aquilo tudo! Era igualzinho a nada a não ser a si mesmo! (E àquela distância, começava mesmo a não se parecer com absolutamente nada!) O que me fez passar para a orografia do que via... Depois para um plano maior da Geografia...
E continuava a subir, inebriado em tantas coisas que agora conseguia ver! Sempre, sempre mais, sem limites para nada! Acabei por parar de olhar para baixo: estava farto daquela mesquinhez toda! Foi com grande ânsia que levantei a cabeça e vi o grande e glorioso Sol!!
Ceguei instantaneamente. Perdido em termos de cima e baixo, continuei a voar até à camada superior da atmosfera e na minha baralhação subi ainda mais. O oxigénio não era suficiente. Desmaiei. Caí... o meu corpo começou a desfazer-se em pó enquanto era incinerado pela reentrada.
Mas agora tudo tinha mudado, agora eu conseguia romper as barreiras estreitas e castradoras que me tinham imposto (pensavam eles que permanentemente) e podia ver as coisas de uma nova forma, mais aérea, mais abrangente da totalidade que, afinal, é a melhor forma de ver as coisas. Quando estava com os pés bem assentes na terra, era isso que me fazia lamentar a minha falta de sorte: só conseguia uma perspectiva que nem 180º graus tinha, uma perspectiva reduzida e minúscula, como se a realidade fosse tudo aquilo que eu podia ver num determinado momento e nada mais do que isso. É natural que eu continuava limitado (biologicamente falando) a uma visão não-omnisciente. O que mudara é que agora a minha visão conseguia abarcar mais mundo, mais realidade, mais verdade, por conseguinte.
O busílis é que, passado muito pouco tempo deste meu maravilhoso voo inaugural, comecei a aborrecer-me de tudo aquilo. Olhava para baixo, vendo a rua transformar-se em quarteirão, o quarteirão em bairro, o bairro em cidade... não preciso de continuar, pois não? Que treta, aquilo tudo! Era igualzinho a nada a não ser a si mesmo! (E àquela distância, começava mesmo a não se parecer com absolutamente nada!) O que me fez passar para a orografia do que via... Depois para um plano maior da Geografia...
E continuava a subir, inebriado em tantas coisas que agora conseguia ver! Sempre, sempre mais, sem limites para nada! Acabei por parar de olhar para baixo: estava farto daquela mesquinhez toda! Foi com grande ânsia que levantei a cabeça e vi o grande e glorioso Sol!!
Ceguei instantaneamente. Perdido em termos de cima e baixo, continuei a voar até à camada superior da atmosfera e na minha baralhação subi ainda mais. O oxigénio não era suficiente. Desmaiei. Caí... o meu corpo começou a desfazer-se em pó enquanto era incinerado pela reentrada.
<< Home