Livre arbítrio
As coisas que crio, as personagens que se levantam do papel para me virem sufocar com as suas vozes, com as suas exigências, reclamando serem vivos e autónomos. À noite é quando as vozes se levantam para sentirem mais vivamente aquilo que o fio da caneta ou as pontas dos dedos que martelam as teclas sem descanso os não deixam viver. Crio consciências separadas, crio afirmações, eu, deus de papel e tinta, ou de bytes de informação...
Um dia pode ser que toda a tinta que derramei a falar sobre mim, a falar sobre pequenos fragmentos da minha imaginação ou a criar fragmentos de imaginações alheias, saia do papel e venha ter comigo, se ajunte num único caudal e procure regressar a mim, qual obra com saudades do seu criador. Então eu poderei também dizer-lhes que, se são singulares e com vida própria, bem que se podem desenrascar sozinhas e voltar para as suas folhas de papel em que vivem, ao invés de virem tentar afogar-me como paga por coisas que foram elas a fazer.
Tu, que escreves, nunca sentiste a inspiração furtar-se ao teu controlo?
Um dia pode ser que toda a tinta que derramei a falar sobre mim, a falar sobre pequenos fragmentos da minha imaginação ou a criar fragmentos de imaginações alheias, saia do papel e venha ter comigo, se ajunte num único caudal e procure regressar a mim, qual obra com saudades do seu criador. Então eu poderei também dizer-lhes que, se são singulares e com vida própria, bem que se podem desenrascar sozinhas e voltar para as suas folhas de papel em que vivem, ao invés de virem tentar afogar-me como paga por coisas que foram elas a fazer.
Tu, que escreves, nunca sentiste a inspiração furtar-se ao teu controlo?
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