sábado, maio 07, 2005

Livre arbítrio

As coisas que crio, as personagens que se levantam do papel para me virem sufocar com as suas vozes, com as suas exigências, reclamando serem vivos e autónomos. À noite é quando as vozes se levantam para sentirem mais vivamente aquilo que o fio da caneta ou as pontas dos dedos que martelam as teclas sem descanso os não deixam viver. Crio consciências separadas, crio afirmações, eu, deus de papel e tinta, ou de bytes de informação...

Um dia pode ser que toda a tinta que derramei a falar sobre mim, a falar sobre pequenos fragmentos da minha imaginação ou a criar fragmentos de imaginações alheias, saia do papel e venha ter comigo, se ajunte num único caudal e procure regressar a mim, qual obra com saudades do seu criador. Então eu poderei também dizer-lhes que, se são singulares e com vida própria, bem que se podem desenrascar sozinhas e voltar para as suas folhas de papel em que vivem, ao invés de virem tentar afogar-me como paga por coisas que foram elas a fazer.

Tu, que escreves, nunca sentiste a inspiração furtar-se ao teu controlo?