domingo, maio 01, 2005

Adeus

- Olá.
- Olá.
- Está tudo bem?
- Sim. E contigo?
- Também...
- ...Parecia que estavas cheio de pressa, ao telefone. Era porquê?
- Tinha que falar contigo urgentemente. Por isso é que combinei as coisas assim à pressa. Desculpa se te interrompi alguma coisa...
- Não interrompeste nada, que disparate! E mesmo que tivesses interrompido, para vir ter contigo vale sempre a pena, não achas?! E não te ponhas com respostas parvas, ou nunca ouviste falar de perguntas de retórica?
- Sempre a brincar, tu!
- Sempre! ... Mas afinal querias falar de quê?
- ...Disto tudo. De tudo, na verdade.
- De tudo?... Não estou a perceber...
- Tu, ontem à noite, não estavas assim tão bem, pois não?
- Esquece lá isso! Estou aqui agora, não estou?
- E porque é que eu devo esquecer?
- ...Como assim?! Olha, porque não vale muito a pena estar a falar disso agora, não achas? Temos que aproveitar enquanto estamos juntos para podermos descontrair um pouco.
- Pára com isso, por favor... Diz-me o que se passa...
- Não se passa nada! Vá, vamos sair daqui e dar uma volta a um lado qualquer; está um dia tão bom que nem parece que é inverno.
- Ainda não aprendeste que não consegues desviar assuntos nos quais eu insisto? Até parece que não me conheces...
- Oh, não digas disparates! ...Já chegou ontem à noite para esta conversa, ok?
- Não, não me parece que tenha chegado. Não desta vez.
- ...Vá, esquece lá isso... Vamos...
- Não! Desta vez não! Estou farto que me estejas sempre a dizer a mesma coisa, vezes e vezes sem conta, como se eu não existisse!!
- ...Mas tu existes, tu és a pessoa mais importante para mim! É em ti que eu confio, é a ti que eu...
- ...Não! Isso é muito bom de ouvir, e eu sempre disse que acreditava em ti, mas as coisas... estão num ponto onde eu não as suporto mais.
- ... ...Mas...
- Durante todo este tempo vi-te a sofrer e tentei ajudar-te. Durante todo este tempo tentei estender a minha mão para ti, tentei mostrar-te que comigo podias estar bem. Mas tu recusaste tudo isso, recusaste-te a deixar-me mostrar o meu amor por ti e fizeste-me sentir como se fosse apenas mais um objecto para enfeitar. Ou uma pessoa descartável, que se arruma quando não se quer enfrentá-la. Eu até compreendo... mas pedi-te mil e uma vezes que não o fizesse e de todas as vezes tu voltaste a fazê-lo, como se o que eu te tivesse dito não tivesse valido nada! E para além de me deixares de fora da tua vida, ainda me tentavas afastar mais. De todas as vezes eu suportei tudo isso. E fi-lo porque te amo. Porque esperava que acabasses por te cansar de me ver sofrer e me deixasses entrar na tua vida, ao invés de me teres como algo a que se recorre quando se quer sair da vida.
- ...Mas, amor...
- Não fales! Não digas mais nada, porque sabes que isto dói. Só que tudo isto ainda dói mais. E eu deixei de ter forças... Pela última vez... Adeus.


"I'm sitting here alone...
What else could I have done?
I can't regret 'cause I don't even know
What I did wrong...
...
Leaving you for me,
Try to understand
That I'm only leaving you for me.
Demons in my head,
They won't let go...
"
- "Leaving you for me", Martin Kesici & Tarja Turunen

"You and me
We used to be together, (...) always.
I really feel that I'm losing
My best friend.
I can't believe this could be
The end.
...
Don't speak
I know just what you're saying
So please stop explaining
Don't tell me 'cause it hurts.

- "Don't speak", No Doubt